sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A teoria da mediação de Vygotsky


1.    A teoria – características gerais

            Para Vygotsky o desenvolvimento cognitivo está pautado no contexto social e cultural do indivíduo. Centraliza-se nos mecanismos relacionados ao desenvolvimento cognitivo e não qualifica o desenvolvimento como produto de estágios de desenvolvimento  e sim de tem origem e natureza social.
            A teoria de Vigotsky pode ser analisada a partir de três pilares:
·      Os processos sociais são da linhagem dos processos mentais superiores
·      Os processos mentais só podem ser entendidos a partir dos signos e instrumentos que os regulam.
·      O “método genético-experimental” – metodologia que oferece o máximo de probabilidades com o objetivo de esclarecer os processos, facilitando assim a sua análise.

2.    Instrumentos e signos

a.    desenvolvimento cognitivo – relações sociais/funções mentais.
            Para Vygotsky o desenvolvimento cognitivo é a conversão de relações sociais em funções mentais, ou seja, sem socialização não há desenvolvimento das funções mentais superiores.

b.    a mediação
            Através da mediação as relações sociais são internalizadas e transformadas em funções mentais. Sucede então uma reconstrução interna de uma operação externa.

c.      instrumentos e signos
            A conversão das relações sociais em operações mentais não é direta ela se dá através do uso de instrumentos e signos. Os instrumentos possibilitam a mediação homem-natureza e através deles é possível dominá-la. Já os signos, através do significado que trazem, permitem a modificação das operações mentais.

d.    lei da dupla formação
            O desenvolvimento mental superior passa essencialmente por duas fases. Uma externa, relacionada com a interação social e outra interna, individual. A partir deste plano, surge a lei da dupla formação. No desenvolvimento da criança toda função aparece duas vezes, uma vez de forma social e outra de forma individual. A partir desta abreviação, todas as funções mentais superiores se originam da interação com outros seres humanos.

3.    A fala: a importância da fala no desenvolvimento da linguagem – desenvolvimento dos processos mentais superiores.

            O desenvolvimento dos processos mentais superiores está arrolado ao uso de signos linguísticos, possibilitando que a criança se afaste cada vez mais de um contexto concreto. Através da experiência, através da associação do nome do conceito ao objeto ao qual se relaciona a criança aprende a abstrair. Neste sentido, a fala surge  como com um marco fundamental no desenvolvimento cognitivo da criança. A  convergência entre a fala e a atividade prática representa o momento de maior significação no desenvolvimento intelectual.

4.    Zona de desenvolvimento proximal (zdp)

a.    o conceito da zdp
            É definida por Vygotsky como a distância entre o nível de desenvolvimento cognitivo real do indivíduo (capacidade de resolver problemas sozinho), e o seu nível de desenvolvimento potencial (capacidade de resolver problemas com o auxílio de alguém)

b.    a relação interação social/zdp/limites da zdp
            A interação social que suscita a aprendizagem deve ocorrer dentro da zona de desenvolvimento proximal. Por outro lado a interação social também tem papel importante na determinação dos limites dessa zona. Limite inferior – nível real de desenvolvimento do aprendiz; limite superior – determinado por processos instrucionais que ocorrem a partir da interação social (brincar, ensino formal e informal, trabalho)

5.    Formação de conceitos

a.    o desenvolvimento dos processos que levam à formação de conceitos
            Este processo começa na fase mais precoce da infância e com o passar do tempo amadurece e se desenvolve apenas na puberdade. É como se estes equivalentes funcionais presentes no inicio da infância estivessem para os conceitos verdadeiros formados posteriormente, como o embrião está para o organismo.

b.    equivalentes funcionais dos conceitos
-       Agregação desorganizada: é o primeiro passo da criança para a formação de conceitos. O amontoado de ideias é criado ao acaso, objetos desiguais são agrupados de maneira desorganizada.
-       Pensamento por complexos: nesta fase os objetos passam a ser agrupados devido à relações que de fato existem entre eles. Surgem então atributos comuns, complementares e a partir de uma sequência de atributos. No auge desta fase surge o pseudoconceito, ligação entre o pensamento por complexos da criança e o pensamento adulto.
-       Conceitos potenciais: nesta fase os traços abstratos de diferentes objetos não se perdem facilmente e evoluem para resultar no principal instrumento do pensamento.
-       o processo da formação de conceitos: desenvolvem-se a partir de duas linhas ou raízes distintas. Uma que vai dos agrupamentos até os pseudoconceitos e outra, paralela, contemporânea dos conceitos potenciais. A fusão destas linhas dá origem a um processo qualitativamente diferente: a formação de conceitos.

c.     Aprendizagem e ensino segundo Vygotsky
- a relação aprendizagem/desenvolvimento cognitivo: “desde o momento em que o desenvolvimento das funções mentais superiores exige a internalização de instrumentos e signos em contextos de interação, a aprendizagem se converte em condição para o desenvolvimento dessas funções, desde que se situe precisamente na zona de desenvolvimento potencial.”(Rivière, 1987, p. 96)

- o bom ensino para Vygotsky: é aquele que está à frente do desenvolvimento cognitivo e o conduz. A boa aprendizagem é aquela que está avançada em relação ao desenvolvimento.

- o papel do professor na aquisição de significados contextualmente aceitos: o professor entra como mediador nesta conquista, possibilitando o intercâmbio de significados dentro da zona de desenvolvimento proximal do aprendiz. O professor também é responsável pela averiguação da relação entre o significado que o aluno captou e o aceito socialmente.

- o ensino como busca de congruência de significados: a busca ocorre a partir do momento que o professor propõe os conceitos socialmente aceitos e o aluno apresenta corretamente o significado que captou. O ensino se consuma quando aluno e professor compartilham significados.

Fontes:




Vygotsky e múltiplas representações:leituras convergentes para o ensino de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física. Acesso em Out/2014


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